segunda-feira, 31 de março de 2014

Prefácio a "Solto a Poesia", de Isabel Lucas Simões



Neste seu “Solto a Poesia”, Isabel Lucas Simões traz-nos, fundamentalmente, uma abordagem poética a um dos temas mais relevantes de toda a História da Poesia: o Amor; e fá-lo através de poemas de fôlego, mas com uma marcação rítmica deveras interessantes.

Há portanto neste volume dois condimentos bastante apelativos. Por um lado, a tradição temática; por outro a dimensão musical essencial a qualquer poema.

Lê-la é perceber da necessidade de se descobrirem os rostos e os gestos que se ocultam no ventre das pedras; é escutar os elementos constitutivos do Universo; é, em suma, descortinar a pedra basilar do Mundo, aquilo a que a autora denomina por Amor.

E é sobre essa pedra basilar que funda a sua escritura, procurando a cadência para a edificação do poema; mas, e sobretudo, sente-se que há a demanda do tal equilíbrio perdido que Piet Mondrian refere como fundamento para a arte.

Desta feita, a autora impregna os seus poemas com a leveza essencial das palavras, procurando nestas a musicalidade e criando imagens capazes de desvelar no outro sentimento.

E é através do sentir que a seus poemas se vão revelando pelo que “Solto a Poesia” é uma obra que vale bem a pena ser folheada, mas, sobretudo, degustada.. 

E este é o desafio que vos deixo.


Coimbra, 29 de Maio de 2011


in SIMÕES, Isabel Lucas - "Solto a Poesia". Temas Originais. 2011


domingo, 30 de março de 2014

de "Ordálio" - 10

Sonda
o insondável desejo
do poema ser
iluminura de silêncio
em esquecido templo

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

sábado, 29 de março de 2014

de "Ordálio" - 9

Ao nado o nome dado
que esquecido fora
através dos tempos

Sabia somente
de um reflexo
de uma cruel máscara
imposta a si mesmo
e nada mais

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

sexta-feira, 28 de março de 2014

de "Ordálio" - 8

Cruza a memória a secreta rota
rumo ao centro.
A criança que cintila
chora
o umbilical corte.
Inicial gesto
da nobre arte de morrer.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quinta-feira, 27 de março de 2014

de "Ordálio" - 7

Moldar a argila e ser de música
a escultura. Empreender
a viagem
dos sentidos
sobre a matéria.
Descrever
com lentidão
a pureza das formas.
Eis a arte inicial
do oleiro do caos.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

terça-feira, 11 de março de 2014

de "Ordálio" - 6

Há para cada labirinto
asas de dédalo no olhar

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Prefácio a “Entre a escada e o muro”, de Maria do Rosário Leal



O livro que acaba de abrir, “Entre a escada e o muro”, de Maria do Rosário Leal, convida-nos para uma divagação sobre a própria condição humana. Poder-se-á atribuir aos signos escada e muro, anunciados em título, os valores de possibilidade de ascensão e de limite, respectivamente, e será entre estes valores que a poetisa se encontra ou nos diz, talvez seja este o factor mais relevante, da nossa própria condição.

Assim sendo, a sua escritura procura revelar-nos sobre o que existe entre esses dois domínios, a necessidade que sentimos em melhorar cada uma das valências onde nos movimentamos e o que nos é imposto como limite, sobretudo socialmente, dessa mesma necessidade.

Maria do Rosário Leal faz do poema o espaço de reflexo sobre a sociedade e, do olhar de quem a lê, o local ideal para o acordar de consciências, como um murro no estômago, adormecidos que estamos pelas eternas promessas de reclamos que reclamam a nossa atenção.

São estas promessas que nos fazem amiúde adiar o risco de pisar o próximo degrau e vislumbrarmos o que há para além do muro.

Em suma, este volume é uma espécie de despertador, mas que nos é entregue sem imposições, sem programação estabelecida, antes aguarda a sua activação mediante o que cada um de nós neste souber descobrir.


20 de Outubro de 2011


in LEAL, Maria do Rosário - "Entre a escada e o muro". Temas Originais. 2011

domingo, 9 de março de 2014

de "Ordálio" - 5

Por sobre a argamassa do caos
a mão detém-se

Com uma suavidade
milenar acaricia
a matéria informe

De súbito
um gesto
um simples recorte
de uma luminosidade
extrema

Da amálgama primeira
uma forma surge
nada e inacabada
finita e infinita
coisa criada e criadora

Espaço e tempo
o cosmos

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

sábado, 8 de março de 2014

de "Ordálio" - 4

Reinventa a música:
suprema linguagem do universo.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

sexta-feira, 7 de março de 2014

de "Ordálio" - 3

Há para cada ser
um gesto
que lhe corresponde

Uma encenação
que se desenha em cada movimento

Uma voz
que se ergue contra a muralha
da própria alma

Um desejo crescente
do corpo não ser limite
mas ponto de partida
rumo ao ignoto

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quinta-feira, 6 de março de 2014

de "Ordálio" - 2

A mão desperta num gesto

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quarta-feira, 5 de março de 2014

de "Ordálio" - 1



Inscrição

NUT
CHU
GEB

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

terça-feira, 4 de março de 2014

Prefácio a "Um Punhado de Sombras", de Paulo Themudo



Escrever sobre o trabalho poético de Paulo Themudo é encetar uma viagem através do tempo, quer numa dimensão do correr dos dias, quer numa outra, certamente mais poderosa, aquela que se tece dentro de cada um de nós.

Esta sua obra: “Um Punhado de Sombras”, insere-se nesse caminho, nessa visão do caminho que nos cabe percorrer. Uma via que só pode ser plena quando a memória é assumida como uma espécie de calibrador e catalisador de cada passo.

Desta forma, para mim, este novo título de Paulo Themudo, constitui a adição de um importante passo aos anteriormente dados com “Fui... O que já não sou!...” e “Devir de Vir”, como se o poeta escreve-se o livro, o mesmo livro e esse nos legasse capítulo a capítulo.

A sua forma de expressão, contaminada pela sua outra manifestação artística, a pintura, mais do que construindo imagens no sentido poético do termo, abre-nos uma surpreendente paleta de sensações, através do movimento, das colagens, da capacidade de conferir em nós, através da palavra, num constante jogo de luz e sombra, verdadeiros espaços visualizáveis.

E essa sensação visual, que o leitor certamente irá descobrir, torna o poema como que habitável em e por nós.

Há, portanto, que se preparar, agora que está prestes a virar a página, para a leitura e descoberta, não só do mundo que o autor detém entre mãos, esse punhado de sombras que o título anuncia, mas, sobretudo, o seu próprio mundo, aquele que em si irá construir através das suas próprias referências.

E poeta não será aquele que falando necessariamente de si, da sua experiência e circunstância, afinal está a referir-se a cada um de nós?


Coimbra, 25 de Setembro de 2009


in THEMUDO, Paulo - "Um Punhado de Sombras". Temas Originais. 2009




segunda-feira, 3 de março de 2014

de "In Memoriam de John Lee Hooker" - 7

Sei que sabias
No fim restará
Somente em alguém a memória
Esse livro de bordo onde a vida
Anota e apaga
A própria vida

E uma breve
Sinopse enciclopédica
Pouco mais

O certo
Três iniciais
Um nome
Duas datas

R.I.P.
Requiescat In Pace
John Lee Hooker
Mil novecentos e dezoito
Dois mil e um

in "In Memoriam de John Lee Hooker" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2003)

domingo, 2 de março de 2014

de "In Memoriam de John Lee Hooker" - 6

Amaste o som das guitarras
Com a paixão do saber
Feito rumo sem amarras
Entre nascer e morrer

in "In Memoriam de John Lee Hooker" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2003)

sábado, 1 de março de 2014

de "In Memoriam de John Lee Hooker" - 5

Depois de teu nome
Direi uma guitarra

A harmonia do corpo
De uma guitarra
Onde o sexo se promove
Com a errância
Dos cometas
Na ânsia
Acto partilhado
Do som

in "In Memoriam de John Lee Hooker" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2003)