IX
falar para a lua
pelas janelas da noite
Xanana Gusmão
1.
enumero as palavras colhidas
nos riachos da memória
e sinto a fogueira
acesa sobre a pele
há estrelas
cintilam nas janelas do poente
em breve
a noite abrirá
as suas portadas
para revelar o breu
2.
talvez a lua saiba
por que lábios
se desenha
a palavra sede
no ventre das marés
3.
trago as armas
sílabas que se ocultam
na dobra das estrofes
como um sereno arado
que sulca as vias
para uma safra de assombro
4.
a terra reclama e acolhe
o próprio fruto
não há claro ou escuro
tudo é parte de um êmbolo
em constante movimento
in "Nove ciclos para um poema" (edium editores, Matosinhos, Portugal, 2008); "Viagem pelos livros" (Escrituras, São Paulo, Brasil, 2011) - Prémio Literário da Lusofonia - 2007, organizado pela Câmara Municipal de Bragança