sexta-feira, 8 de maio de 2015

de "Nove ciclos para um poema" - 8.º Ciclo


VIII

As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato

Alda Espírito Santo

1. 

no côncavo de um verso
a água repousa
serena

aguarda pela sede de uma sílaba
de passagem

2.

um só acorde acordaria
o espanto da noite

uma ave que cruzasse as mãos no erguer
da casa

ou um filho que viesse
dobrar o horizonte
onde o olhar do pai
repousasse

3.

porque é simples a palavra
com que se molda o dia
e frágil o sentido
das coisas mais belas

um pão nas mãos da fome
um ribeiro na boca da sede
uma ilha no olhar de um náufrago

por que feres os passos
e traças a sangue
a via do poema

4.

rendo-me ao caminho
teço o verso que me falta

vem do segredo da terra
da música das águas

das simples palavras
com que amasso o pão

in "Nove ciclos para um poema" (edium editores, Matosinhos, Portugal, 2008); "Viagem pelos livros" (Escrituras, São Paulo, Brasil, 2011) - Prémio Literário da Lusofonia - 2007, organizado pela Câmara Municipal de Bragança 

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