terça-feira, 15 de abril de 2014

de "Hino de Santa Clara" - Explicação


O Hino de Santa Clara foi apresentado pela primeira vez em vinte e cinco de Novembro de dois mil e quatro, no âmbito das comemorações dos cento e cinquenta anos da fundação da freguesia de Santa Clara num dos locais de excelência dos seus domínios, o Convento de São Francisco.

Com letra de Xavier Zarco e música de Alexei Valerievich Kozlov Iria, foi cantado pelo Coro de Santa Clara sob os acordes da banda da Sociedade Filarmónica Penelense. No entanto, as honras da estreia foram para um grupo de crianças do Clube dos Tempos Livres de Santa Clara, os Santaclarinhas.

Assente em dois grupos de quadras e um refrão, também ele em quadra, que se repete no início e fim, bem como entre as duas sequências, o Hino de Santa Clara segue a linha popular ao escrever-se em redondilha maior, com versos de sete sílabas métricas, e com um esquema de rima cruzada, predominantemente grave ou inteira. 

Inicia com o aproveitamento das designações do património e referências geográficas, dando-nos a ideia de um movimento necessário para a compreensão sensível do local em foco, Santa Clara. Segue os passos da Paixão pelo Monte da Esperança, embora correspondam, os passos da Paixão, de facto, às três capelas existentes na Calçada de Santa Isabel, assim como o monte que por ela se sobe se chame da Esperança, traz-nos uma outra mensagem, um outro conceito.

Esperança significa esperar com confiança um bem futuro, algo que se sabe ou sente como provável, que se deseja, uma expectativa, uma suposição. Por seu turno, paixão, para além de estar associada aos padecimentos de Cristo desde a captura até ao calvário, vale também como ímpeto ou entusiasmo.

Uma audição sem se conhecer as referências mencionadas, patrimoniais e geográficas, diz-nos que para se alcançar algo que se julga possível, há que investir por um caminho de vontade, que é a nossa própria via. Daí a sequência, segue e sente, seguir a via para poder sentir. E o que pode sentir, se seguir a via, é a própria memória de Santa Clara, a que existe no facto concreto dos monumentos e a que se transmite por lendas, pela oralidade.

No entanto, a História não se edifica somente por quem a memória preservou o nome, mas, e, porventura, sobretudo, pelos que ficam no anonimato, mas que por sua acção foram as mãos que deram [a] vida a esta terra.

No segundo e último grupo de estâncias, a necessária alusão aos marcos importantes que fazem de Santa Clara um ponto de referência ao nível mundial. Por um lado, a ligação de Santa Clara aos amores de Pedro e Inês identificada como terra de amor ofendido pelo tempo eternizado e com a lenda do milagre das rosas sendo esta aludida como roseiral de pão florido em regaço coroado.

O final do poema como que qualifica a terra, o valor da terra, como elemento matricial onde se desenrolam os actos enformadores da memória que embora seja dira, cruel, não deixa de ser doce. Porque sendo de fortuna, no sentido da deriva dos tempos, do desenrolar da História, da crise da sucessão ao trono de Portugal, do início do século catorze, às invasões francesas, da industrialização à pressão imobiliária, porque Santa Clara não ficou incólume a todos esses momentos, não perdendo o seu encanto, muito pelo contrário, antes soube superar cada um dos instantes por mais negativo que fosse. 

Talvez seja essa a sua verdadeira magia e que a levou a ser uma das localidades em Portugal mais cantadas pelos poetas, muito por via de Inês de Castro, mas, também, pela sua beleza intrínseca, um aspecto que advém dos tais anónimos que souberam depurar a argamassa com que se erguem as estrofes.

E por ser este último o mais valioso pormenor de todos, a força e o querer das suas gentes, que o refrão menciona ser Santa Clara um poema nado em sossego, no dia a dia, no decurso da respiração que marca a cadência do que tem de ser feito e que seus versos semeara, porque há o intuito de haver futuro, no que, desde os seus primórdios, foi, quase direi, o seu martírio, as águas do rio Mondego, levando, por exemplo, ao fim do Mosteiro de Sant’Ana, mas, também, o seu impulsionador, fazendo com que se expandisse pelo monte da Esperança.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

de "Hino de Santa Clara" - Poema



HINO DE SANTA CLARA

Refrão:
                        Minha terra é Santa Clara,
                        Poema nado em sossego,
                        Que seus versos semeara
                        Nas águas do Mondego.



(Refrão)

Segue os passos da Paixão
Pelo Monte da Esperança
E sente as pedras que são
De idos tempos nossa herança.

Memória de ouro erguida,
Na luz da argila, da cal,
Pelas mãos que deram vida
A esta terra sem igual.

(Refrão)

Terra de amor ofendido
Pelo tempo eternizado.
Roseiral de pão florido
Em regaço coroado.

Terra de fortuna e encanto,
De dira e doce memória
Sentida em cada recanto
Do fulgor da nossa História

(Refrão)


in "150 anos de Santa Clara - Coimbra", (DVD, Junta de Freguesia de Santa Clara, 2005).
Poema vencedor do Concurso para a Letra do Hino da Freguesia de Santa Clara, promovido pela Junta de Freguesia de Santa Clara, em 2004.
Pode ser escutado em http://www.jfsantaclara.com

domingo, 13 de abril de 2014

Prefácio a "Ser Poeta", de António MR Martins



No poema homónimo ao presente tomo, Florbela Espanca escreve que ser poeta “é condensar o mundo num só grito”. António MR Martins denota essa característica em muitos dos poemas constantes neste volume.

Para o poeta, a palavra assume-se de facto como grito. Ele está no meio da multidão, não se coibindo de a observar, partilhando dos seus ritos, das suas ânsias e medos, mas, também, dos seus sonhos. Não é portanto imune ao potencial contágio do que enforma a cidade.

E é na observância deste jogo entre o ser e o parecer, entre o rosto e a máscara que o verso surge. E eclode forte como um grito, ou seja: algo que se eleva para que seja ao outro, o que consigo partilha a cidade, perceptível por entre os ruídos que a habitam e condicionam a comunicabilidade; algo radicalmente urgente.

Mas se esta sua não indiferença perante a coisa do mundo é uma via, outra se desvela: um caminho pelo sentimento como se fosse possível através, sobretudo, do amor atingir uma espécie de Arca de Noé perante a iminência de um Dilúvio.

E é neste segundo trilho que o poeta nos demonstra que o amor não se faz, não é aquilo que comummente se convenciona. Sabe que só o seu reflexo é vislumbrável, e tudo porque o amor simplesmente é.

“Ser poeta”, o livro que tem agora nas suas mãos, é para ler, mas essencialmente para se ir lendo. Tal como a vida, que não é para se viver, mas para se ir vivendo, usufruindo dessa forma de cada instante, mesmo que necessário se torne o grito, e tantas vezes este é preciso, porque cada instante, por mais (aparentemente) pobre que seja, guarda sempre a magia que só a palavra poética é capaz de revelar.


Coimbra, 22 de Fevereiro de 2009


in MARTINS, António MR - "Ser Poeta". Temas Originais. 2009

sábado, 12 de abril de 2014

de "Ordálio" - 20

A boca acesa num grito

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

de "Ordálio" - 19

Da olaria cósmica, nem um
cometa pelo céu resta. Só um rastro
perpétuo de uma ogiva
de fogo e sangue e morte.

E um corpo ofióide, que silva
pendente na árvore do saber,
espera que alguém lhe resgate
a maçã que na boca possui.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

de "Ordálio" - 18

Perto da queda, procuro uma
saída, uma Arca de Noé,
por onde as palavras escapem
do vil dilúvio das máscaras.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

de "Ordálio" - 17

De pleno, nada descubro no
horizonte. A magia não brota
na chama fugaz de um olhar
que não se espanta com a luz.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

terça-feira, 8 de abril de 2014

de "Ordálio" - 16

Sonata ao Luar de Beethoven:
a mágica fórmula de
construir, por música, o amor.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sessão de Lançamento: "Maçã. E o Pendor Sagrado", de Paulo Roque

O autor, Paulo Roque, e a Temas Originais têm o prazer de o convidar a estar presente na sessão de lançamento do livro “Maçã. E o Pendor Sagrado”, a ter lugar no Auditório Municipal de Vendas Novas, sito na Biblioteca Municipal de Vendas Novas, Rua de S. Domingos Sávio (Jardim Público), em Vendas Novas, no próximo dia 12 de Abril, pelas 17:00.

Obra e autor serão apresentados pela jornalista Dr.ª Ana Paula Pires.


domingo, 6 de abril de 2014

Prefácio a "Sombra em Clave de Sol", de Joaquim Evónio



Escrever para algo produzido literariamente por Joaquim Evónio, obriga-me a recuar no tempo. Desta feita até à cidade de Leiria, onde, nos espaços da Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira, no ano de 2006, o conheci pessoalmente. Escrevo-o porque escuto-o com o seu timbre característico por entre estes seus contos.

Joaquim Evónio traz-nos neste seu trabalho, que agora se reedita, a linguagem depurada de um escritor maduro, seguro no seu ofício de contador de histórias.

Não há uma palavra a que se possa atribuir a condição de excedente. Estas estão onde devem estar, como se ao autor bastasse colhê-las e nada mais. 

Porém, esta aparente facilidade expressiva oculta um árduo trabalho oficinal, um chegar aí erguido por uma extraordinária capacidade de síntese e um imenso saber sobre a Língua em que se expressa.

Mais do que lhe indicar as características e ou as temáticas abordadas neste volume, convido-o a calcorreá-lo, a espreitar por entre as palavras os mundos que este contém.

E isto porque há de facto vida nesta recolha que Joaquim Evónio nos oferta e a que denominou: “Sombra em Clave de Sol”. E é para a descoberta dessa secreta pulsação que o desafio a ler este livro, mas lê-lo como se alguém para si o lesse.


Coimbra, 12 de Novembro de 2009


in EVÓNIO, Joaquim - "Sombra em Clave de Sol". Temas Originais. 2009

sábado, 5 de abril de 2014

de "Ordálio" - 15

Na pedra onde a serpente repousar
a palavra mais bela hão-de encontrar

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

de "Ordálio" - 14

Voa por sobre a pele em silêncio
Grava
cada movimento
com os olhos da memória
Evola sobre ti
Sente o peso de teu corpo
enquanto te libertas
Há que voar
Cruzar distâncias de desejos
incumpridos
Estabelecer fronteiras
e derrubá-las
Voa
e quebra os grilhões da matéria

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quinta-feira, 3 de abril de 2014

de "Ordálio" - 13

Agarra esta estrela e parte
rumando à distância
que o tempo urge

Há que conquistar
as sílabas do sonho
uma a uma
para que criança sejas

Para que o mundo em tua mão
seja berlinde
não recordação

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

de "Ordálio" - 12

Deposita em alheia vontade
o desígnio do mar

Alta é a voz que cresce
na boca das ondas

quando gritam as rochas
a criação do templo

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)

terça-feira, 1 de abril de 2014

de "Ordálio" - 11

A vida:
Braço de ferro entre Eros e Tánatos.

in "Ordálio" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2004)