domingo, 9 de fevereiro de 2014

de "Palavras no vento" - 9

Intifada

Sentado em meu sofá, frente à TV,
vejo o mundo ou o mundo que nos mostram.
Independentemente de o ser ou
de o fazer ser, o facto é que há imagens
que marcam, que perduram penduradas
na íntima galeria da memória
e nos toldam o olhar, nos impele a
trazer, a passear, como escreveu
Eugenio Bueno, com a morte
debaixo do braço. Arde, no princípio
da triste galeria, uma mão, uma
pedra, obus mineral arremessado
contra o blindado. A mão seria de uma
criança se não fosse triste o olhar
como ave que receia o voo.
Mas, sobre esta batalha, não perguntes
quem vai ganhar ou quem vai perder. Só
sei que sempre haverá uma intifada
dentro do teu olhar secreto e puro
que será não de pedras, mas de lágrimas.

in "Palavras no vento" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2003)

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