VIII
As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato
Alda Espírito Santo
1.
no côncavo de um verso
a água repousa
serena
aguarda pela sede de uma sílaba
de passagem
2.
um só acorde acordaria
o espanto da noite
uma ave que cruzasse as mãos no erguer
da casa
ou um filho que viesse
dobrar o horizonte
onde o olhar do pai
repousasse
3.
porque é simples a palavra
com que se molda o dia
e frágil o sentido
das coisas mais belas
um pão nas mãos da fome
um ribeiro na boca da sede
uma ilha no olhar de um náufrago
por que feres os passos
e traças a sangue
a via do poema
4.
rendo-me ao caminho
teço o verso que me falta
vem do segredo da terra
da música das águas
das simples palavras
com que amasso o pão
in "Nove ciclos para um poema" (edium editores, Matosinhos, Portugal, 2008); "Viagem pelos livros" (Escrituras, São Paulo, Brasil, 2011) - Prémio Literário da Lusofonia - 2007, organizado pela Câmara Municipal de Bragança
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