sábado, 1 de novembro de 2014

de "Afluentes do poema" - 1


Regresso. Sinto o fogo da Biblioteca
de Alexandria ríspido nas
veias do poema. Há um verbo a conjugar.
Uma criança a correr entre
alamedas de espanto construindo
a memória. Nada a prende ao mundo.
Tudo é madeira virgem onde gravar
as sílabas do sonho. Pedra onde a
face se expõe ao vento impiedoso
dos tempos. Mas a lágrima surge e
cava no rosto artérias de dor.
E regresso ao meu novo ofício. À
arte de depurar sombras e cinzas.
Nada digo à criança. Talvez um
dia as cinzas revelem seus segredos.

in "Afluentes do poema" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2006)

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