JORGE DE SENA
abre-se a fenda
uma ferida exposta na pele
do templo do tempo
das palavras
há um fogo
que matiza suas pedras
um livro nado
e resgatado
de um gesto inicial
uma história
que só nesta era tinha
mais de dois mil anos
uma palavra nova
arremessada
pela íntima fúria
a paixão das coisas
que as mãos erguem e suportam
*
E regresso um pouco triste a uma alegria imensa
Jorge de Sena
ulisses é a viagem
penélope o regresso
ítaca a partida
o que nos aguarda
senão o desígnio
da viagem
de um mar por cruzar
de um silêncio a habitar
cada instante é um rasto
uma pegada
a secreta
cartografia de partir
e regressar
in "Poemas com rosto" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2007)
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