sexta-feira, 20 de março de 2015

de "Poemas com rosto" - 39 e 40


MIGUEL TORGA

tinha de ser flor
nada em rude pedra

em cada dobra
se seus poemas
se descobre
a prece de um voo

um mapa
de indagação solar

na epiderme
de todos os sentidos

*

Falavas, e era música na terra

Miguel Torga

escreveram-te poeta
no mais belo
papel timbrado do mundo
em carta registada com aviso
de recepção

anunciava oficialmente
a morte da poesia

como cigarra
na fila do desemprego
escutavas a voz das formigas
servos da gleba
dos mercados bolsistas

aí soubeste que o poema
era uma arma
uma canção que tinha urgência em ser ave

e subindo ao coreto da esperança
cantaste o nascimento de um poema

in "Poemas com rosto" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2007)

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