MIGUEL TORGA
tinha de ser flor
nada em rude pedra
em cada dobra
se seus poemas
se descobre
a prece de um voo
um mapa
de indagação solar
na epiderme
de todos os sentidos
*
Falavas, e era música na terra
Miguel Torga
escreveram-te poeta
no mais belo
papel timbrado do mundo
em carta registada com aviso
de recepção
anunciava oficialmente
a morte da poesia
como cigarra
na fila do desemprego
escutavas a voz das formigas
servos da gleba
dos mercados bolsistas
aí soubeste que o poema
era uma arma
uma canção que tinha urgência em ser ave
e subindo ao coreto da esperança
cantaste o nascimento de um poema
in "Poemas com rosto" (e-book, Virtualbooks, Brasil, 2007)
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